sábado, 24 de novembro de 2012

Quimera

Todos os traços que eu sempre admirei em alguém, tão longe de ser possível avistar, era visto nela. A pele lisa, de um tom caucasiano refinado, quase anglo-saxônico, que ao sol ou a luz fluorecente parece brilhar, macia como a seda tecida pelos melhores artesões orientais, de brandas mãos, com tênues linhas de perfeitas voltas e lindos nós nas falanges médias e proximais, agraciadas por trejeitos manuais de bom grado quando levava uma mecha atrás da orelha e sorria.

Eu não dizia uma palavra, conseguiria formar, mas seriam obsoletas.

O sorriso branco de dentes bem formados de modo cortês, que acariciavam os lábios de uma maneira diferente de tudo o que já vira antes, não poderia ser reposto de forma alguma. Quando o inverno chega, o tom de pele ganha uma cor rosada, que contrasta firmemente contra as linhas azuis das veias salientes.
Os olhos... Castanhos, que maculam, que maltratam, que perfuram dentro dos olhos alheios. O olhar castanho tem um místico poder de capturar o que fica subentendido.

Nunca tive problemas em encarar pessoas, em confrontar olhares, nunca me intimidaram verdadeiramente... Mas aquele olhar, eu não consegui.

Era sereno, e ao mesmo tempo audacioso, complexo de decodificar, e se ficasse olhando por muito tempo, sentiria-me despida de segredos e desnuda. Aqueles olhos levemente puxados, cheios de si, meio prepotentes carregados de maquiagem pesada de três ou quatro tipos diferentes me deixaram inquieta, amedrontada, desnorteada. Por quê não conseguia decodifica-los? Que tipo de interferência eles dispunham? Não eram os mais lindos olhos que já vi, eram sim graciosos, pomposos, um olhar de fêmea, exatamente com essa palavra para adjetivar. Que será que guarda neles? Por quê tens tanta fixação e me dá receio?

O cabelo era de um castanho escuríssimo, quase negro, aveludado e liso. Caía sobre os ombros e banhava a metade do tronco, desfiado, repicado de forma desconexa, fazia o vento passar por entre as brechas, levantando as mechas e deixando-a com um ar descompromissado e ao mesmo tempo selvagem. Brigava com o tom de pele pálido, todo o tempo.

Ela falava. Mas eu não ouvia sequer duas frases inteiras. Era como se estivesse com ouvidos tampados, de forma ao som passar por eles sem ser capturado.

Não queria ouvir, ver bastava. Agradava-me o perfume, com um tom cítrico, típico perfume de verão - aqueles que se usa em finais de tardes de veraneio - era realmente encantador.

Parece me que poderia ser pintado naquele corpo, uma figura divina, uma valquíria talvez? - bastava mirar-lhe: tamanha beleza e sutileza em um único ser.

Poderia ser real?

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