domingo, 12 de abril de 2009

Uma carta para Elisa


Eu conheci uma garota. Seu nome era Elisa.
Era uma péssima mentirosa. Não podia passar um dia sozinha, ela nunca se satisfazia.
Tinha medo de escrever em papéis nus, franzia o cenho com medo de se perder nas curvas que ela pudesse produzir.
Ela tinha algum amor, mas tudo deu um nó e a vida se perdeu. Longe de ser uma garota certa, ela sabia demais. Oxalá voltasse a ter alguma parte de sua inocencia.

Ela detestava sua letra, mas não parava de escrever, não tão cedo.
Deveria estudar, mas escrevia. Deveria parar, mas escrevia. Deveria respirar, mas escrevia. Talvez ser uma grafomaníaca era a única coisa que sabia fazer.
Temia por suas coisas de valor. Boa parte delas, pessoas, que ela julgava importante, e que a vida fez questão de esfregar lhe na cara o contrário.

Ela dizia para mim:
- " Quando você tem tudo, você tem tudo a perder." - Fui compreender isso anos depois.
Algumas coisas que eu julgava boas, se perderam como pó.

Então eu disse a ela:
- " Meu bem, esteja certa do que você procura, pois nem sempre é disso que você precisa.
Diga-me por quê o primeiro a prometer é sempre o último a cumprir... O fato de você me dar sua palavra, está longe de você cumpri-la."

Então eu fiz uma carta.
A qual pus o título de Uma Carta para Elisa.
Eu gosto do seu nome... Me soa doce, quase como canela. Me soa leve, como pluma.
Sem palavras difíceis, pois tudo era simples. Como Elisa era. Nem trocadilhos, nem entre-linhas. Era como o nu.

A carta dizia mais ou menos isto:

Elisa, meu bem, saia do sol. Não gosto de ver sua pele branca desfragmentar nesse clima odioso.
Suas mãos brancas, jovens e magras, com veias saltadas e pulsantes, a cor azulada da a idéia de correr uma espessa tinta azul por dentro delas. Cobertas raras vezes, por luvas de veludo, nos dias frios dessa cidade. Lembra quando iamos ao parque pela manhã? Oque torna isso tão fabuloso!
Elisa, minha cara, existem coisas que eu tenho que tratar com você. Você é uma menina fabulosa e sabe disso. Mas gasta tempo demais.
Eu deveria ter dito certas coisas erradas um milhão de vezes, mas você disse o dobro.
Se eu pudesse voltar o tempo, rebobinar, eu apenas veria em minha mente, se eu pudesse voltar no tempo, você ainda seria minha.

Você deveria ter calado sua boca quando as coisas pioraram, quando as palavras escorregaram da sua boca, soaram estúpidas. Se esse velho coração pudesse falar, diria que você é a única. Mas as coisas não funcionam assim.

Me desculpe por dormir no sofá aquela noite, eu venho assim como você, distorcendo toda a verdade, mas não mentindo. Não é tão ruim quando você pensa nisso.
É tudo um jogo, é só oque conseguimos fazer, então entre Elisa, e feche a porta.

Esta é mais uma carta para você.
A valsa das letras, a troca equivalente sem nenhuma distorção.

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